O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, pretende colocar frente a frente 3 personagens relevantes do caso da liquidação do Banco Master: 1) o fundador do banco já liquidado extrajudicialmente, Daniel Vorcaro; 2) o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos; e 3) o ex-presidente do BRB (banco estatal de Brasília) Paulo Henrique Costa.
O STF está em recesso, mas o Poder360 apurou que os 3 devem ser acareados nas dependências do Tribunal ainda em 2025. A data pré-agendada para a audiência é 30 de dezembro (3ª feira da próxima semana), às 14h. Os depoimentos serão gravados em vídeo. A Polícia Federal deverá acompanhar, mas um juiz do gabinete de Dias Toffoli estará presente e fará as perguntas que forem listadas pelo ministro.
A acareação dessas 3 personagens principais do caso do Banco Master não foi solicitada pela PF. Trata-se de iniciativa direta de Dias Toffoli.
O ministro Toffoli determinou sigilo nas investigações sobre o Master. Concentrou todos os documentos no Supremo. Só que tem pressa. O ministro tem se dedicado nos últimos dias a ler e estudar os inúmeros documentos do caso. Pretende fazer um processo profundo para apurar os responsáveis pela fraude que teria, segundo dados do Banco Central, provocado um rombo de aproximadamente R$ 12 bilhões de créditos inexistentes no balanço do Master –o que o banco liquidado nega.
O ministro quer saber que tipo de providência foi tomada por todos os envolvidos para que se chegasse ao estágio atual, em que o Banco Master teve de ser liquidado extrajudicialmente pelo BC em 18 de novembro de 2025. Antes, o BRB havia anunciado em 28 de março que compraria o Master e que a operação daria mais competividade ao mercado bancário e solidez à instituição financeira estatal do governo de Brasília. O BRB pretendia comprar R$ 50 bilhões de ativos do Master (49% do capital votante e 58% do capital total).
A operação foi vetada pelo Banco Central em 3 de setembro de 2025. Em 18 de novembro, o BC liquidou o Master. A decisão se deu no mesmo dia em que a Polícia Federal deflagrou a operação Compliance Zero e prendeu o fundador do Master, Daniel Vorcaro, e outros dirigentes da instituição.
O ministro Toffoli já sabe que houve alertas há mais de 1 ano ao Banco Central sobre a falta de solidez dos ativos declarados pelo Banco Master. Quer entender onde o sistema falhou ou se houve demora excessiva para que alguma providência fosse tomada. Deseja que a conclusão do processo possa representar uma mudança estruturante para dar mais solidez ao sistema financeiro nacional.
Esse tema não é novo para Toffoli. Em 1996, ainda como advogado da Liderança do PT na Câmara dos Deputados, ele ajudou a formular uma ação direta de inconstitucionalidade que, no STF, impediu que fosse usado dinheiro público na criação do Fundo Garantidor de Crédito, que havia sido criado em novembro de 1995 por resolução do então governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Como mostrou o Poder360 na reportagem “BC desconhece fábrica de créditos falsos no sistema financeiro”, publicada na 3ª feira (23.dez), há muitos indícios de que uma indústria de criação de créditos falsos foi usada para aumentar o valor dos ativos do Master –algo que a instituição nega.
A acareação de 30 de novembro deve permitir entender um pouco mais o que Daniel Vorcaro do Master tem a dizer e como será contestado –ou não– pelo diretor de Fiscalização Banco Central, Ailton de Aquino Santos.
O funcionário público Ailton Aquino, nome que usa profissionalmente, foi indicado para o cargo de diretor do Banco Central pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023. Tinha 48 anos e seu nome foi aprovado pelo plenário do Senado por 42 votos contra 10 e 1 abstenção em 4 de julho daquele ano. Aquino se tornou o 1º homem negro a ocupar uma diretoria na autoridade monetária.
Na cadeira de diretor do BC, Aquino protagonizou um episódio em 17 de novembro de 2025 com imbricação direta no caso Master. Segundo a agenda pública de autoridades da autarquia, o diretor de Fiscalização participou, de 13h30 a 14h10 daquele dia, de uma “audiência, por videoconferência, com Daniel Bueno Vorcaro, Presidente do Banco Master”. Participaram também Belline Santana, chefe do Departamento de Supervisão Bancária, e Paulo Sérgio Neves de Souza, chefe adjunto do mesmo departamento. A reunião foi marcada como “fechada à imprensa”. Estava em curso nessa na mesma data a repercussão do anúncio da venda do Master para a Fictor Holding Financeira.
No dia seguinte à reunião de Aquino com Vorcaro (18.nov.2025), bem cedo, o fundador do Master foi preso pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.
Ocorre que um ofício interno do Banco Central, descrevendo a videoconferência, tornou-se peça central da estratégia de defesa de Vorcaro. Os advogados utilizaram o documento para contestar a acusação de risco de fuga, argumentando que o banqueiro havia comunicado ao próprio regulador, horas antes, que viajaria ao exterior –portanto, não estaria tentando escapar, mas só conduzindo negócios.
A alegação foi acolhida. A desembargadora Solange Salgado, do TRF-1, concedeu liberdade ao banqueiro com medidas cautelares, incluindo tornozeleira eletrônica. A tese de que Vorcaro tentava fugir do país –base da prisão preventiva– foi oficialmente abalada.
O documento do Banco Central virou salvo-conduto. A reunião, convocada horas antes da deflagração da operação policial, serviu para criar o álibi que libertou o principal investigado.


